"Como se tudo que eu possuísse tivesse me deixado, e como se nada pudesse ser o bastante caso retornasse..." (Kafka)
quinta-feira, 25 de junho de 2009
Repousam agora na lembrança aquelas noites de sábado em que nem amigos nem amantes eu era um masoquista no quarto construindo versos natimortos eu me embriagava da melancolia tragada no copo da solidão eu queria os sons que soavam distantes através da janela eu queria as luzes e o cheiro da noite eu queria as meninas de vestido bêbadas e a alegria dos amigos reunidos mas só tinha a força da adriana calcanhotto tocando no rádio de repente e potencializando tudo o que era sensação transbordando a atmosfera do quarto de desejo dos amores passados (e dos que nunca puderam) eu ficava esperando uma voz ao telefone uma chamada no messenger que nunca vinha e me masturbava com os mesmo filmes e voltava a arquitetar poemas suicidas e me flagrava como um solitário por vocação que portava uma carência quase patológica e passava a madrugada comendo e abrindo a geladeira de 15 em 15 minutos e morrendo de medo do escuro da sala e da escada e morrendo de medo de ser doentio tudo isso que eu sentia e fazia tudo isso que eu era mas o que mais me frustrava era dormir mais uma noite dessa vida medíocre sem haver qualquer possibilidade de alegria e/ou amor e/ou sexo e tudo era pesado tudo carregava uma densidade estranha igual a da casa de um velho viúvo que agora só espera o sono derradeiro chegar e no entanto eu sabia que isso se dava porque ali eu era eu mesmo com todas as forças e em absoluto por isso toda essa angústia por isso toda essa melancolia pois nasci repleto de um querer absoluto que subjuga o tempo todo os meus olhos que me vende sensações sem remédio e é um caminho sem volta anestesiar isso com a poesia que também é fuga que também é aprisionar uma partícula de tempo para amenizar uma falta porque a saudade nada mais é que um desejo correndo atrás no tempo e quando se deseja se é plenamente e eu que desejo todo o tempo me sinto completamente sem cessar e ser assim é ter preso a carne e ao âmago a consciência de que estar na existência é um fardo que a maioria dos homens carrega sem saber.
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Um comentário:
o estômago balança em ler isso, um balanço não de enjôo, mas como um levante de o2 que sai revirando páginas outrora nutridas;
teus escritos tão do caralho, bom sacá-lo imerso em sua poesia.
beijoca,
dri.
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