Para um primeiro amor que nunca vai lê-lo
Eu tinha 13 anos e o nome dela era Mirna.
Não sei porque sempre achei que
esse nome combinava com os seus olhos verdes.
Naquela época as meninas dessa idade
não eram essas mini-mulheres de
hoje em dia
elas eram mais parecidas conosco
os moleques
(até seu cabelo curto era de menino).
E foi com ela a primeira vez que tive febre
(nunca poderia supor que passaria
pela vida desde então sentindo uma
febre atrás da outra).
Mas eu era uma criança ainda e não
sabia o que era aquilo
achei que a morte se anunciava em cada coisa
-quando ainda não se entende o conceito
de amor é que sabemos que a sensação
dele é quase igual ao da morte-
mas a verdade é que pra mim a Mirna sofria
de um excesso de beleza que alimentava a
fome do meu olho e roubava a
fome do meu estômago.
Lembro da vez em que roubei sua borracha
e ela mordeu minha mão para
tê-la de volta e eu me apaixonei pelo gesto
e me encantei com o cheiro da sua
saliva nos meus dedos:
eu ainda não sabia o que era aquilo.
E quando nos escondendo no quartinho de entulhos
ela me deu um beijo e saiu correndo
e eu morri e voltei e morri e voltei
um animalzinho paralisado e tremendo de medo:
eu ainda não sabia o que era aquilo.
Mas quando no último dia eu olhei do portão
sua mãe a levando embora pela mão
até a esquina que a fez sumir
que eu conheci a indescritível sensação do
que é perder alguém no mundo...
e só aí então eu soube o que era aquilo:
só tive a ciência do que era amor depois do primeiro adeus.
Mas isso foi a 15 anos atrás e
de lá pra cá nunca mais pude supô-la...
só que nessa lenta noite de outubro me
veio uma vontade irresistível de apenas
saber se ela ainda está viva
se ela ainda está bonita e se é feliz.
Mas no amargo da impossibilidade só me
resta parir esse poema como se fosse uma prece:
um desejo absoluto que esteja
onde estiver ela possa dormir dentro
de um moroso acalento bom
e que estranhando a sensação da hora
ela nunca sequer imaginará que eu descobri
que desde a minha infância ela deixou
um sentimento escondido aqui
essa matéria-prima que empresta
força a esse poema feito para
ao menos por essa noite
guardá-la de qualquer cansaço da vida.
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