sexta-feira, 9 de abril de 2010

A Existência do Relâmpago


I
O que vê um relâmpago antes
de fender o céu?
Coisas e pessoas diminutas:
alvos em potencial.
Mas seu existir é uma fração
um átimo...

Sem tempo de mirar ele se
precipita quase sempre em vão
quase nunca cai no mesmo lugar
(mas sim senhores
ele cai).

II
Eu li no Livro dos Recordes que um
homem sobreviveu ao longo da vida
a queda de cinco raios sobre ele.
Ele cometeu suicídio por
um amor não correspondido.

Fico pensando que eu não
sobreviveria a um raio sequer...
mas já sobrevivi a uns cinco suicídios por amor.
Mereço o Livro dos Recordes?

III
Estou precisando sorrir.
Por isso
aqui na casa sem luz
eu fico de olhos fechados sobre o colchão
só para que cada vez que vare um relâmpago
eu tenha um segundo de alegria por
achar que a luz voltou.

IV
Nessa noite de Domingo
os raios e o som da chuva me
trazem em um estalo
nostalgias de noites que não vivi...
(como estará a Camerino
a Gomes Freire e a Lavradio a
essa hora?)

V
Logo depois do clarão do relâmpago
o telefone toca.

Conversamos.

Ao desligarmos o telefone a
luz volta no mesmo instante.
O telefonema dela veio com a luz e
me trouxe a luz de volta:
a voz da Fernanda me salvando
de um intervalo escuro.

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