quarta-feira, 20 de abril de 2011

Contemplação Mnemônica


É uma luz moribunda que se
derrama sobre as pastas dos velhos arquivos
enquanto ele se debruça na mesa entre
seus papéis e documentos.
Ele usa uns óculos redondos e tem
os cabelos meio brancos e nem
sente a inelutável noite acariciando sua nuca.
O silêncio do escritório é indestrutível
(menos talvez por um rádio onde as
músicas cheiram a passado).

No bairro os apartamentos se preparam
pra dormir enquanto ali
na imersão do trabalho noturno
ele nem nota que é hora de sonhar.
Eu reconheço no seu semblante que ele
pertence a essa raça de homens que
perdidos em suas (im)produtivas horas
nem percebe que é triste.

É noite de um abril em 2011 mas
naquela saleta parece-me que
aquele homem e seus arquivos
são manifestações de memórias longínquas.
Talvez ninguém mais os pudesse ver
se ali parasse na calçada e lançasse os
olhos através de sua janela como fiz:
são entes que ficam aprisionados num tempo-outro
e só quem os pode ver são os donos de um
olhar sensível as coisas que se perderam do seu devir.

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