domingo, 29 de abril de 2012

Guia de Bolso Para Desaparecer Completamente


Queria
neste poema
as últimas letras sobre você e
esses dias fossilizados em resina.
Alguma coisa que decidiu te esquecer
nas filas dos bancos nas bordas das
taças de veneno e entre os sintomas da gripe.
Da cozinha planejada escondi
aquela caneca com a nossa foto:
tirei o seu sorriso do café com leite.

Voltarei pra neblina.
Voltarei a viver me esquivando dos
carros e retornando de mãos alheias
na frustração laminada da madrugada.
Vou voltar a levantar pesos e a ler Danto nos
sábados a noite enquanto o funk faz a
madrugada clamar no baile do morro vizinho.

Na semana passada
voltando da Lapa
fui revistado pela polícia.
Com a cara na parede eu sorri e tive
vontade de dizer: “Me prenda! Pois sou
capaz de odiar do fundo do meu coração garotas
de cabelos curtos! Sou bem capaz de assassinatos
em série!” Mas o policial foi tão
simpático pediu desculpas apertou minha
mão que perdi a vontade de me entregar...
E também lembrei que era preciso voltar
pra casa de qualquer jeito:
precisava pintar meu quarto de outra
dor e mudar o colchonete de lugar.

Ando bebendo oceanos inteiros.
No meio de algum inferno (que me
salva) as garrafas soletram o seu
nome em guardanapos de papel e me aliciam
a invadir seu apartamento no meio da
madrugada só pra te dizer: “Te esqueci mas não
entendo porque estou aqui! Não entendo porque
estes copos de cerveja espumam o teu cheiro!”

É hora de fazer sacrifícios humanos para
ressuscitar a chuva e catar pedrinhas para
erigir o castelo onde reinarei por sobre
horas acrílicas por sobre postes e faróis
por sobre a cidade vadia.

Meus antebraços peludos me lembram
sua falta e sei que os pulsos são meus finalmente
para outros perfumes e para o último corte.
O mundo não vai acabar esse ano (talvez só pra
mim que a qualquer momento posso
cessar o movimento) mas o pior é continuar
em cada dia em cada coisa lembrando que
os momentos sem você são eternidades
inteiras despejadas em terrenos baldios.

O afeto entre os casais de amigos deixam
meus gestos abandonados de tudo.

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