Vive a atriz rodopiando sob a
luz estroboscópica das minhas
vertigens enquanto a Lapa amanhecendo
(o domingo que nunca acorda)
submerge em mim.
Na impiedade geométrica das
tuas ruas eu vou deixando pra
trás enormes pedaços do que
em mim
já não posso mais suportar.
Na incongruência das esquinas carros de
polícia e teus olhos castanhos ensaiando
lágrimas de água com gás.
Teus olhos que
a cada esquina
me desferem socos no peito.
Mas o medo persiste.
Medo de te encontrar entre as
cores das festas que não faço e você
como é de costume
me agredir com a delicadeza da
tua presença e me empurrar violentamente
ao longo dos caminhos mais certos.
Eu nasci pros caminhos tortos.
Mas ainda agora aqui havia
uma atriz e talvez ainda existam
aquela literata e uma escritora que
espero de pé no limiar dos abismos tristes
no antiromantismo dos monitores na
maresia cosmopolita dos apartamentos de
Copacabana nas salas dos teatros pouco
vistos na iluminação art deco das cafeterias.
Há bananas verdes na fruteira da cozinha e
filmes sobre o Nacional Socialismo Alemão
na estante do quarto enquanto te espero.
E um dia te quis magra e um dia
te quis fogo e você
no entanto
me queria de qualquer jeito menos
esse traidor que transa com as
luzes dos postes e dos faróis e
pisando na urgência de outras flores
ainda te espera sem
esperança.
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