terça-feira, 23 de setembro de 2008

Dendrobium Nobile


A primeira vez que nos vimos foi como se fosse um estranho reencontro, foi como se em cada segundo da aparição dela eu achasse, e achasse, e achasse infinitamente, o que andava por aí procurando sem saber mesmo o que era. E, naquele instante, foi como se se instaurasse um bonito paradoxo, onde tudo ganhava e perdia sentido, era como se o encantamento que exalava dela se impregnasse nas coisas, seguisse seus rastros, e habitasse por todo o tempo o lugar onde ela resolvesse ficar. Enxergava que, cada um a seu modo, éramos parecidos, e na igualdade tive certezas de felicidade, derramei pelos caminhos onde passei meus melhores sorrisos, senti que naquela diferença desse mundo vão que ela demonstrou ter, eu pudesse conhecer tudo o que poderia desejar até o fim. Ouvia as músicas irradiarem uma limpidez diferente, ganharem um sentido mais claro e todo novo.
Eu pude contemplar, com aqueles risonhos olhos de criança que ela havia me emprestado, o inverno se prostrar aos seus pés, eu a vi vindo semeando as cores: o azul, o amarelo, e o verde, eu vi a primavera adentrar mais cedo pelos campos sempre anoitecidos dos meus setembros.
Ela me levou até as orquídeas, com ela conheci as orquídeas e seus nomes, e enquanto ela me mostrava suas preferidas, eu a admirava caminhando tão menina, tão leve, cabelos ao vento, folhas ao chão, que só não a confundia com uma delas, porque ela me parecia ainda mais delicada, ainda mais perfume, ainda mais pétala.
Ficou retido a mim, como fotografia inscrita na memória, o espelho onde morei. Aquele espelho onde eu a via me vendo, o mesmo espelho onde no reflexo do reflexo dos seus olhos, abraçado a ela, eu me via refletido muito mais bonito... e falávamos de contrastes, e falávamos de opostos e do yin e do yang, e eu no entanto, só pensava que nos nossos corpos unidos, morava o dia reunido à noite, como se naqueles pequenos e imensos mundos que criávamos, eles pudessem existir ao mesmo tempo, ser uma coisa só.
E fiz vinte e sete junto a ela, e hoje posso dizer, que pelo menos por um único dia, eu consegui todo bem que poderia querer na vida: por um único dia, por algumas poucas horas, eu pude realmente envelhecer ao lado dela.

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