segunda-feira, 18 de maio de 2009

Pietá


Para minha avó morta

Quanto tempo faz que não vejo o seu rosto?
Quanto tempo faz que você não se lembra do meu?
Seremos só lembrança um do outro então:
você que já se foi,
eu que ainda ando desvanecendo por aqui...

Os carnavais na janela alta do apartamento,
o chiado das batatas na frigideira,
os gongolôs enrolados pelas frestas úmidas do quintal,
a escalada da alta ladeira de um São Cristóvão que parece nem existir mais...

Eu que nasci inferior, nasci homem,
nunca poderei saber da glória triste de ser mater dolorosa.
E não que eu creia em qualquer metafísica,
e não que eu possa merecer,
mas que a força do seu amor espreite o pobre Luisinho,
que você nunca soube carregar uma trôpega alma por esta vida.

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