domingo, 7 de fevereiro de 2010

Bola Preta na Praça Vermelha




Sábado de manhãzinha
sentado no portão da minha casa
sem nada para fazer além
de mastigar o tédio e
sentir a brisa abafada que anuncia
um dia vazio.

Logo vai ser carnaval e o
verão se impõe e traz
todo o seu calor
todo o seu azul e amarelo que
acendem as coisas.

É manhãzinha e passei a noite
lendo uma antologia de poetas russos.
Poetas de nomes complicados
-que não guardei nenhum-
mas que eram tristes eles todos
(também pudera
com toda aquela neve
com toda aquela revolução)...

Eu sabia que àquela hora
o chão da Rio Branco estremecia com
o Cordão do Bola Preta
e que meus amigos no meio da massa
sorriam e pulavam
alegres e embriagados
enquanto eu me comprimia no vácuo
de um quarto sentindo na densidade
toda ausência
toda perda e vontade.

Mas agora
nessa manhã azulzinha de sábado
sentado no portão da minha casa
eu sorrio meio de lado e
sinto eletrificar cada pêlo do meu corpo
no anseio do carnaval que se aproxima...
mas é tudo só por um instante:
é uma sensação fugaz e que passa
como passam por mim essas brisas abafadas.

Tenho calor e a iminência do carnaval
(o total inverso da neve e da revolução)
mas sentado no portão da minha casa
correndo os olhos pelos paralelepípedos desertos
eu estou triste como um poeta russo.

2 comentários:

Joana Rabelo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Joana Rabelo disse...

"mastigar o tédio" Estou com essa frase batucando na minha cabeça.