sábado, 8 de maio de 2010

Pequeno Tratado Sobre a Fenomenologia do Amor e da Solidão



I
O vermelho aceso dos faróis e dos sinais
nem de longe iluminam o
casal de namorados no banco da praça.
No centro do vaivém do trânsito
(na noite de Cascadura)
o amor surgindo de lugares inesperados
lança seus ecos ao longo da
avenida inteira.

O amor sabe se perpetuar.

II
As buzinas das lotações os
motores dos ônibus o
funk tocando alto na velocidade do
carro que passa
a noite se esvaindo num estrondo:
alguém em mim indo embora e
levando consigo a melhor parte.

III
Na madrugada o silêncio da
hora é ensurdecedor.
O ar é pesado
tem peso e densidade.
A madrugada tem cheiro e temperatura.
A madrugada é um corpo que me exila.

IV
Já de manhã
tudo existindo na fosca claridade:
a solidão simbolizada
cristalizada
nas lágrimas de um filme do Almodóvar.

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