sábado, 11 de dezembro de 2010

Imagens Sacras


I
A sexualidade trágica de Schiele me domina.
Schopenhauer na cama ejaculando
pessimismos no lençol.
As flores murchas do criado-mudo
sussurrando quartos de motel.
Antigos abismos me propondo absurdos
no primeiro pensamento da manhã.
O arroz da panela se movendo como os
vermes do saco de lixo que esqueci de pôr fora.
A paz estilhaçada nas ruas amanhecidas
do Engenho de Dentro.
O desejo fazendo circunvoluções nos
pontos de ônibus.
Lâminas faíscam nos tetos dos carros
enquanto duas estudantes lésbicas e lindas
se beijam no último banco
fazendo Artaud sentado ao meu lado sorrir.
Ormud e Ahriman se digladiando no
céu de chumdo do Riachuelo
enquanto meninos empoeirados escrevem com mijo
o nome de Rimbaud sobre muros grafitados.

II
E numa noite submersa ela me ligou
chapada de álcool e de Blake e
fui encontrá-la sugando águas dos olhos e
de um chafariz.
Ela me propôs o teste de Rorscharch com
dez módices usados
enquanto a Sofia Copolla nos filmava
(mesmo eu dizendo que preferia o Murnau).
Quando desmontaram o set de filmagem eu estava mesmo
era no meu próprio quarto onde anjos depenados
giravam cuspindo rosas e febres
e na penumbra eu vi que nenhum deles
tinha o rosto dela.

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