domingo, 6 de fevereiro de 2011

Meditações Extemporâneas


I
O instante-intervalo entre as
batidas de um coração são
o silêncio mais absoluto que existe.
A via-láctea inteira (com sua
mudez eterna) é este átimo de
um pulsar.
A vida é o átimo de um átimo
por isso pra nós
que vivemos a milhões de anos
entre duas pulsações
o silêncio do universo parece infinito.

II
Conheci mulheres que me pediam para
escrever quilos de poemas sobre elas
como se a poesia fosse um objeto de fábrica...
Mas como escrever tanto se
a minha vida
a vida delas
a vida de todos os outros
se resume a um único verso?

A vida é um único verso.

III
E eu aqui grão
eu aqui ínfimo
um verme de curta duração
que revolve a culpa (como se fosse
excremento) por saber
que enquanto outros vivem verdadeiras tragédias
minha agonística máxima é escrever poesia
é achar atrizes pornô parecidas com ex-namoradas.


IV
Este poema nada mais é
(como qualquer outro é)
a reafirmação de que tudo o que
parte não se vai absolutamente.

A carne do poema é a memória
o íntimo é a saudade.

Por isso não esqueço as fórmulas
que nós os alquimistas
usávamos para transubstanciar cerveja
em panacéia nos bailes funk da Vila da Penha.

V
Quando Nefertiti apareceu
bebendo uma tequila atrás da outra
(o cigarro aceso na mão)
em cada trago até a sua careta era linda...
Ela havia se tornado todo fenômeno possível:
Pro meu olho
enquanto ela estivesse ali
ela seria a paisagem inteira.

VI
O tempo do universo é o tempo de
um único pulsar.
A vida é um átimo de um átimo.
E um dos milagres reside nessas belezas que
quando surgem (a tequila o cigarro)
nos roubam qualquer temporalidade
e transcendem nossa finitude toda.

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