"Como se tudo que eu possuísse tivesse me deixado, e como se nada pudesse ser o bastante caso retornasse..." (Kafka)
sábado, 11 de junho de 2011
Walpurgisnacht
Acabei de engolir umas cervejas e
por isso
entre o cinema Odeon e o teatro Rival eu
dou uma mijada.
A hora é fria e o chuvisco fino
parece alegrar as pessoas.
A juventude moderninha se acotovelando
na Cinelândia me enche de
profunda tristeza:
me flagro aos vinte e nove um
velho careta e low profile.
O Municipal se ergue imponente na paisagem
enquanto se dilacera de lado a lado a
carne das minhas sensibilidades:
contemplo corpos que se vendem e
suas bundas cheirando a lycra das
calcinhas minúsculas.
Vejo passarem por mim
dentro da dor da chuva
essas pernas de porcelana que são escarradas
dos vestidos pretos da noite.
E mesmo ali ainda não sei o
que me haverá:
um sorriso
um rosto parecido com
um esvaziado 1984 televisivo.
Fascinado quererei apreendê-lo
mas não conseguirei.
Tudo esta noite é um interdito total entre
meu corpo e o existir das coisas no mundo.
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