quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Paulo Eiró


No final de uma rua calada
há um guarda-roupa vazio no
centro da solidão
há gavetas fechadas que guardam o
cheiro das horas afogadas
há paredes que se diluem como
tinta na água.

Eram dias inumeráveis e que hoje
- dentro da indestrutível memória -
parecem todos um só.
Eram tardes de sábado na voracidade
do computador
as noites solitárias morrendo na
morte dos livros
as manhãs de domingo doloridas da
ressaca que antecede o vazio da
última tarde antes do dia “útil”.

Minha mãe e suas novelas infinitas
meu pai regando o quintal
a rua comprida que ao subirmos
num dia de sol
forma um horizonte inteiro de paralelepípedos.

Por mais que os dias se sucedam infalivelmente
por mais que os homens mudem de casas
alguns dias algumas casas jamais
deixam de nos habitar.

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