quarta-feira, 9 de maio de 2012

A Colisão do Planeta Melancolia com a Terra


Ontem a noite as
pedras do Arpoador foram um
chamado um clamor inaudível menos
para mim.
Lá eu talvez te encontrasse sem
saber que ali existiria e
você se surpreenderia quando
bêbado eu
começasse a expelir filosofia no
bafo de cerveja.
Você me falaria com sua
típica soberba de Beauvoir e
eu com minha calma de quem é triste te
diria de Schopenhauer e te contestaria e
te venceria em debate inflamado e você me
olharia com aquele seu lindo olho de raiva:
“Cara tu é foda!” e me daria seu telefone mesmo
sabendo que eu vou perdê-lo antes de te ligar.

Mas não.
Isso não aconteceu:
Ontem eu quis a casa.
Não quis o mundo e nem qualquer sorriso.
Varei as horas num filme do Lars Von Trier e
com um novo enlatado americano sobre vampiros e
quando na extensão da madrugada ensaiei
escrever um poema a Bebel Gilberto tocou
rasteiramente no rádio e desisti só por
escutá-la perguntando (na canção) onde eu estava
dizendo que ela só queria me ver.

Realmente ontem o quarto foi uma piscina de
bílis negra e passei o dentro da
noite secretando uma gosma pegajosa que
impedia os movimentos do corpo:
era um casulo de solidão.

Eu quis isso tudo para mudar:
é manhã e ainda espero aqui sozinho a
erupção súbita e rascante de alguma asa.

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