Teu reflexo é meramente uma
imagem ou ele também é
o corpo verdadeiramente?
Na superfície transparente você
não é carne e sim vidro e tudo
mais que passa por detrás: carros
placas de trânsito propagandas de
cerveja: você é a cidade inteira.
No vidro a vejo estampada em
todos os seus movimentos mas
se toco no vidro no ponto onde
você reflete não sinto a textura da pele
toco em um simulacro sem
cheiro sem calor e sem sua voz:
toco na verdade em meu olho.
Assisto o seu corpo que presumo
ideal (presumo pois nunca a
verei nua) como quem assiste ao
estelar nascimento silencioso de
uma Supernova.
E cada átimo de segundo fotografa na
chapa de vidro um instante infinitesimal que
que alisa meus olhos e volta: esse
mecanismo de reflexões infinitas
queima em minhas retinas as
suas formas em inumeráveis diferentes vezes.
Posso então recriá-la absoluta aqui
nesse quarto pois a carrego em
um milhão de gestos diversos:
e quem sabe talvez
tê-la contemplado assim
possa ter sido mais poderoso e
revelador que viver mil anos ao seu lado.
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