lê teus chacras enquanto
as contas de madeira em
tuas clavículas reluzem a
luz fria com dificuldade
a vida babe é
como as janelas de metrô
que passam pelas estações
frias do meio de julho:
estes rostos que passam como
riscos enquadrados em
molduras de alumínio esses
rostos que nunca me verão e
dos quais nunca saberei nada
que não esses olhos cansados
o metrô a noite
- ambos sabemos - é uma
redoma de melancolia
mas você é elegante (um
brinco de osso) em
sua magreza que de dentro
da luz férrea é de uma insubstancia
fina como se fosse um facho
da própria luz moribunda
meu ouvido captura fragmentos
“loteria filha proust videogames
marido terminal
unhas feitas” e nos meus olhos de
franz kafka do subúrbio você
deve ter lido que ando solitário
que quero conhecer a dona da voz
que anuncia as estações e tocar
ternamente em sua face esquerda
babe
você deve ter percebido
que quero conhecer você também e
seu sorriso amarronzado sob a luz
café e ver as mãos do sono despenteando
teus cabelos na fumaça cinza da
madrugada de chumbo
mas o vagão é branco como um
hospital e as pessoas são limpas e
cheiram bem: é sábado a noite (mas
ainda assim sinto o cheiro do
teu sexo estreito driblando os
outros perfumes o aço desumano) e
quando meu olho e o teu se chocam
é como se abrisse uma lanterna mágica
nas tuas retinas um diamante um cristal que
vai criando narrativas e cinematografias no
metrô para o largo do machado que
é onde tu me abandona mesmo
tendo sido eu a deixar o vagão que
seguirá adiante imbatível como segue a vida:
levando embora você de mim junto
a todos os rostos que esqueceremos
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