O poema
enquanto não escrito
é um punhal encravado no peito.
O poema incomoda
sangra
o poema zune o dia inteiro no
ouvido interno implodindo o equilíbrio.
A possibilidade do poema é
um louco se debatendo dentre as
paredes do corpo:
mas o poema não
respeita camisas-de-força e
nem mordaças: o
poema que esmurrar o
poema quer morder.
O poema se arranca com
unhas e dentes
se puxa o poema pelos cabelos
(alguns poucos se retiram
cirurgicamente qual um coágulo ou
um parasita).
O poema é um escarro prestes
a ser cuspido é o
esperma que salta no instante do orgasmo:
o poema é um orgasmo.
O poema é um silêncio no mundo mas
no íntimo do poeta ele grita e
ecoa através de abismo e cavidades.
Escrever o poema é trabalho de parto
é expurgo
é exílio
é grafar o amor: todos os poemas
são de amor toda grafia é
um ferimento.
Todo poema
senhoras e senhores
enquanto não escrito
é uma ameaça
uma declaração de guerra.
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