domingo, 28 de abril de 2013

do cair da noite


ainda viveremos esses belos anos
entre o sol e o sono mas o ocaso
se assoma no horizonte dos dias e
depois das cores esquecidas olharemos
as fotografias como um soldado que
voltou da guerra de onde não queria
nunca ter saído

o poema
qualquer poema nesses dias vindouros
será escrito por mãos carcomidas
através de olhos que já viram tudo
e já não se encantam mais por nada

talvez uma velha senhora
um cão um radinho de pilha
a poeira dos livros arruinados
serão uma última companhia
um último olhar para um mundo
que escurecerá para sempre
(vocês terão seus filhos o seu
trabalho aqui falo somente por mim)

as coisas serão pedaços concretos de
perda e a visão da juventude pesará
tanto que 10 homens serão necessários
para carregar nossos caixões até a cova

as frutas cairão dos galhos
a cidade se decomporá em mil
nuvens leves craqueladas de porcelana
e dos dias que houveram não
existirá mais qualquer memória viva
que não as dessas ruas onde sorrimos
bebemos e amamos com tristeza e fúria

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