terça-feira, 24 de junho de 2008

A Casa dos Espelhos (ou Narciso Febril)


Ela se parece mais comigo que o meu próprio rosto.
Cada retrato dela é um espelho d’água,
onde miro o que eu deveria ter sido,
o que eu queria ter sido e não consigo...
Portanto ela é o meu eu mais verdadeiro que eu mesmo.

Em qual espelho um dia ela verá o meu rosto?

Pendurado na parede insone do meu quarto
dorme o espelho onde ela se mirou quando fez a visita da minha vida,
o espelho que eu guardo como se a imagem dela tivesse ficado ali impressa...
porque acredito que um espelho não é uma superfície refletora,
um espelho, na verdade, é uma fotografia que não retém...

E todos os dias eu me olho e não me reconheço,
porque na superfície refletora eu vejo o interior de mim,
e o que eu vejo é só aquele rosto dela,
e o que eu vejo é só aquele rosto meu...

E agora como vou esquecer

se já não consigo mais me olhar

sem te ver?


A sua presença ficou gravada no meu espelho.

Espelho que penduro pela casa
para me refletir em todo canto.
Espelho que carrego comigo louco de febre,
só para deixar sua presença espalhada
pela minha casa inteira...


2 comentários:

bruna cavalcanti disse...

Mais um texto totalmente introspectivo....Me lembrou aquele poema da Cecilia Meireles do espelho...

Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida a minha face?

Cecília Meireles

Enfim, caro Luis....a dor que tu sentes é da humanidade tb.....

bruna cavalcanti disse...

Ah, esqueci de dizer....tenho certeza que você encontrará a sua imagem refletida nesse espelho que tanto procuras, a sua e não a dela, e sabe como? qdo tu olhar não para o que sentias dela, e sim dentro do teu próprio coração....é lá que estás....