sábado, 21 de junho de 2008

Fada dos Temporais



Minhas retinas regem,
esquecidas de mim,
um balé de folhas secas
que rodopia dentro da cidade descolorida,
palco cinza que anuncia a tempestade.
Ela cruza a minha frente correndo
e nesse gesto ela já me tem,
ela rouba o meu olhar da ciranda de folhas mortas.
Ela segura a barra do vestido xadrez
p’ra que a ventania não o levante...
e seu sorriso é tão lindo!
que por quase dez segundos eu deixo de lado os pesos da minha cabeça.
São nesses momentos que meus olhos me provam
que eu não existo,
só o que vejo,
só o meu desejo.

O expor dos dentes brancos,
ao contrário das minhas íris enegrecidas,
é algo de natureza estranha aquele cenário,
eles fazem um rasgo clarificado na pele da paisagem em monocromo.
Então percebo que é um lastro nas coisas tristes,
o sorriso dela p’ro vento ousado
é um lastro nas grandes e pequenas coisas entristecidas.
Pois não só corrompe a uniformidade das cores desbotadas
de uma cidade que aguarda a torrente,
mas também vara de um lado a outro o que trago por dentro,
essa paisagem onde há muito o temporal anda caindo.

Um comentário:

Mariana Tiné disse...

Como sempre se expressa muito bem usando as palavras!

Bjs