Oito da manhã
e um atropelado na Intendente
atravanca o trânsito.
Mas hoje é dia de jogo da seleção brasileira.
A paisagem toda em verde e amarelo
nos muros
nas camisas
nas varandas
nas janelas dos carros...
Mas ali
à volta do corpo caído as
cores da bandeira não cingem.
O morto já não tem mais pátria
já não é mais torcedor
virou objeto que daqui a pouco vai
gerar uma terrível comoção na família
(não mais a comoção pela vitória da seleção).
Mas o cadáver coberto pelo sol frio de junho
(logo um jornal um plástico preto)
ainda luta:
digladia o amarelo e verde do dia com
seu vermelho e cinza de sangue e asfalto:
mancha a festa alheia com as
suas cores de morte urbana.
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