segunda-feira, 16 de junho de 2014

                                    (para keats)

longe de casa numa chuvosa
madrugada de sexta-feira
neste hotel de quinta:
a televisão ligada horas adentro
(filmes mudos, pornografia),
e as paredes mofadas secretando
um abismo lento que escorre
sobre os móveis antigos.

o frio, a lembrança almiscarada
das mulheres de cachecol e botas
que vi pela rua mais cedo,
uma sensação de estar disperso,
melancolicamente, na existência das coisas.

de olhos postos sobre o cinzeiro vazio
(o nome do hotel já se apagando),
pra quem nunca fumou, um desejo
de cigarro, duma garrafa de vinho:
quem sabe assim se sentir o derradeiro
poeta romântico comungando com o fim.

tudo conspira para que se viva de
forma acesa a experiência desta solidão.


(teresópolis, 09 de maio de 2014)

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