sábado, 15 de janeiro de 2011

Duas Cenas Para Serem Filmadas Como na Década de 20 em Weimar


I
Pelas ruas de movimento em Madureira
caminha o poeta Cesare.
Caminha não: sonambula.
Entre a vertigem da voragem consumista
ele passa de esguelha
bidimensional e incólume (leve e lento)
como o reflexo nas vitrines
(não sente o corpo
ninguém o esbarra
talvez ele seja o reflexo absolutamente).

Ao chegar ao entorno do shopping
no ponto final do 254
impossível a Cesare não lembrar de
antigas febres sob a chuva.
O peito ozoniza como naquelas
mesmas horas de um setembro
perdido no escoar dos anos.

Ali Cesare pensa na mulher com
nome de uma antiga polis grega (mas
que chamaremos de Elizabeth Bathory
devido as semelhanças).
Pensamentos fortalecidos pelo fato de que
na semana passada ele decifrou o
jeito dela no jeito de uma atriz coreana num
filme do Clint Eastwoood.
E agora anda reconhecendo o rosto dela nos
rostos das modelos nas propagandas
de lingerie.

E até Cesare voltar pra casa
ele sente que cada passo por essas ruas
serão esforços insuficientes para saltar abismos.

II
Na porta da boate com
seu vestidinho branco e botas de couro
Louise Brooks com seu cabelo Chanel
deu um último trago no cigarro antes de vir
olhar nos olhos do poeta Cesare e
saudá-lo de forma dantesca:
-Pape Satan, Pape Satan, Aleppe!

A noite toda ela trazia nos lábios
um gosto de absinto e
entre os peitos um cheiro de incenso barato...
E Cesare pensou que há mulheres que
são tristes (apagadas) pela vida toda...
Mas existem essas (como “Elizabeth”
como “Lulu”) que são atraentes até durante o
mau gosto de uma crise de ciúmes.
E mulheres desse naipe com
sua sexualidade elevada ao nível
de uma Beaux-Art
alumiam qualquer recôndito de desejo.
Para homens sombrios como Cesare
criaturas assim
doem pelo corpo todo.