sexta-feira, 23 de novembro de 2012

cabaret voltaire



no aniversário de
andressa vrum-vrum
teve bolo salgadinhos
cerveja  refrigerante
pole dance e amor
de graça

foi uma festa vip pra
meia dúzia de convidados
(ela guardou uma cestinha
cheia de chocolates só
pra mim)

naquela tarde de sexta
o aniversario de 21 anos
de andressa vrum-vrum
foi uma festa no puteiro

boleros



acordar com ressaca
e os pelos do braço
ainda recendendo o
seu perfume poderia
me desnortear o dia
me fazer rodar a casa
inteira sem rumo

mas hoje é domingo
olho o céu azul através
da janela e prefiro
voltar a dormir

dissertação comparativa entre o amor e o relâmpago



o poeta jorge mautner
disse uma vez que “o
amor é como um raio
num céu azul de maio”

isso é um indício claro
que nem os poetas
de quilate sabem o
que é o amor (esse
mistério mais absoluto)

pois

consta no livro dos
recordes que determinado
homem foi atingido por
um raio 7 vezes ao
longo da vida

aos 71 anos ele deu
um tiro no próprio
estomago por causa de
um amor não correspondido
e morreu

de onde se conclui
que o amor é
em potência
infinitamente mais
mortal que a queda
de um raio

terça-feira, 13 de novembro de 2012

maracatu




que bom seria
uma mulher quase
anoréxica bebendo
os becos e comendo
os casarões escuros
da rua dos arcos

spleen



escrevo esse poema
no banheiro
há plantas na janela:
o sol faz força pra entrar

no banheiro agora
é sempre fim de tarde

lá fora (do outro
lado do vidro atrás
das plantas) um motor
guincha e assovia: um
trator revira a terra
sem nenhum carinho

quando ele para
permanece o tic tac
do relógio da cozinha
em descompasso
com o pulsar das horas
súbitas

não há nenhum
sentimento aqui agora
nem amor nem nada
só essa sensação de
peixe em aquário
redondo achando
que o olho do gato
que o espreita é
uma lua bonita

xilogravuras



esse sábado gasoso
esse fim de tarde plúmbeo
a chuva dissolvendo a
cidade
as luzes suspirando
as músicas no rádio (a
voz desse locutor)
acariciando as árvores
da pres. vargas que
dançam na solidão dos
ventos pluviométricos

ah a juventude!
se foi e deixou essa
saudade absurda da
sensação de amar e
não ser correspondido

Silvia


teus lábios: almofadas
no escuro
tua carne como
um farol aceso na
noite da minha pele
guiando meus náufragos
e procurando destroços
de embarcações ancestrais
nos meus braços rabiscados

mas é em teu rosto
cuja cor nos olhos
já são um
enigma completo
é em teu rosto onde
a cabeleira vermelha
derrama chamas sobre
a testa  glacial

é o teu rosto ruiva:
um sopro um mistério
e um déja vu

baudeleriana



onde andará esse
dragão mal tatuado
em seu braço?
inconcluso desenho
porque o tatuador
queria te comer e
você não queria

em que abraço
em que espaço
andará esse braço?

e essa mão que anda
presa a ele: que
destilado que cigarro
leva a tua boca?
que cabelos afaga?
(faz dez anos que não
tenho mais cabelos)

dias se rasgaram em
papéis em panos escuros
desde que descobriram
nossos poemas violentos
nossos crimes hediondos
e você
fugiu sem ao menos
mandar um bilhete
um email
uma carta
ou
me dar o cu

noção de tempo



desenterrei dos
azulejos do meu quarto
os ossos do meu
próprio fóssil futuro

olhei para um lado
olhei para o outro
e certo de que
ninguém estava vendo
pus-me a roê-los

paul klee



tê-la nua num
quarto de hotel cheio
de verão foi quase
um devaneio uma
nebulosidade de papoula

tê-la entre o sono e
a juventude dos lençóis
recém-lavados
- tigre rugindo de dentro
da noite da barra da tijuca –
e esquecer das neuroses e
incomunicabilidades que
caíam junto a chuva
ácida do redentor

conhece-la  nua
rasgando os véus do tempo
revirando os olhos no
silêncio derramado das
taças brutas e destilando
incertezas entre as
fronteiras do colchão
para que
no final de tudo
eu amanheça vermelho
e só (mesmo com
ela ao meu lado)
na sonolenta lagoa da barra

e descobrir ainda que
não importa abismos
entre idades
nos jogos de guerra
um homem feito sempre
se saberá frágil e condenado
perto de meninas insatisfeitas
e ferozes como ela

voyage dans la lune



mais um dia
mais um banco:
“desculpe senhor mas
há uma restrição em
seu nome”

mas como exigir a um
poeta que se preocupe
com dinheiro?
é como pedir a uma
baleia que pilote um
carro esporte: tão
gigante de tamanho
tão habituada as
profundezas
como caberá ela em
pequenas coisas
que saberá ela de
sistemas e engrenagens?

os poetas e as baleias só
querem saber da vida

museion



senti o poema prestes
a rebentar a deflagrar-se
sobre o colchão

seria todo sobre o tédio
sobre o cheiro agridoce
de sonho quando acaba
sobre o vento matutino
sussurrando palavras
de solidão

mas vi por sob a
soleira da porta a sua
sandalinha que ficou aqui
empoeirada
e
abandonada dos
seus pés  tamanho 36

a chegada desses versos
no meu íntimo sofreram
um severo distúrbio: a
vida arrumou um
jeito sorrateiro de te
intrometer nesse dia

portanto pororoquinha
mesmo na distância
eles dois agora são seus

disritmia



enquanto você dorme
eu tento decifrar em
teu rosto a simetria
esfíngica de todas as
mulheres que dormem

mas
logo a primeira luz se
esgueira
escorrendo lentamente
pelas cortinas e a
claridade silenciosa afugenta
da tua bunda perfeita
os restos da noite morrente

já pela manhã
cansados e ainda meio bêbados
enquanto tu põe tuas
calcinhas pra lavar (meu
olho em sintonia fina nas
matizes do teu corpo)
tu me fala do
teu ex-namorado francês das
árvores da Champs-Élysées da
beleza das flautistas parisienses
e coloca no copo de leite que
me serve duas colheres de
açúcar e uma outra de
je t'aime mon amour

casamento



o vestido branco se
consumindo nas luzes
fosforescentes enquanto
a trama da renda é
um texto onde se decifra
futuras rugas e
tragédias íntimas

mas hoje
só por hoje
eva e adão dançam
abandonados do mundo