sábado, 19 de outubro de 2013

sobre o conceito de sublime

que segredo terrível
guarda uma mulher nua
que sentimento absurdo há no
seu corpo a meia luz que
mais se assemelha a uma
ideia simultânea de prazer e dor

que abismo é esse que se
abre quando ela para de
frente pro espelho e ajeita os
cabelos quando ela sorri do
outro lado da porta supernovas
explodem uma efêmera
flor desabrocha num segundo

a luz e sombra dos seus
quadris o meridiano da sua
barriga os peitos semicobertos
pelo roupão cor de vinho
clavículas clavículas
o amor inteiro debruçado na
respiração das suas clavículas

dentre as geometrias das gavetas
seu corpo é um sol é uma
lua é o eclipse tardio que
risca o dia como um raio e deixa
o céu do quarto em carne viva

que palavras antigas são essas
sussurradas através das estradas
em suas pernas (na geografia da
sua bunda): convites obscuros
sob a primeira claridade da manhã

o que é isso que petrifica e
mata diante desta mulher nua?
é o olho da medusa? é o
enigma da esfinge? ou é

apenas isso sem mistério: ela
de calcinha branca tomando sua
caneca de café enquanto
afogada na luz preguiçosa das cortinas
caminha pelo quarto lendo ms.
dalloway sem notar que já acordei