sábado, 6 de março de 2010

Como Devia Estar


Cheguei ao limite da vida comum.
Não quero mais ter a ver com
nada dessa rotina:
trabalhar trabalhar trabalhar
estudar estudar estudar
se aposentar para jogar damas na
praça esperando o AVC fulminante.

Como é que pode alguém
-quase na metade da vida-
ganhar esse salário medíocre e
ainda encontrar tempo pra escrever
essa poesia que não serve de nada?

Deveria mesmo era ter sido
um cientista ganhador do Nobel
um barão das drogas colombiano
um artilheiro da Copa do Mundo.

Mas que nada!
Queria mesmo era a vida de cinema:
cansado e ferido
-depois de ter sozinho eliminado
da face da terra dúzias de vilões-
ter as pessoas olhando aquelas
Tv’s enormes das Casas Bahia
exibindo todas ao mesmo tempo
eu e a Zhang Ziyi num último beijo
antes de subirem os letreiros.

Os Dias Sem


Ah
nem sou eu que penso nela!
São os filmes que sentem saudades
dos seus olhos
os livros que sentem falta das
suas mãos
as gavetas sem o cheiro
das suas roupas.

E este espelho aqui
que ainda espera ela pintar os olhos?
Os meus defeitos ansiando o
freio das suas críticas
o silêncio do quarto querendo se quebrar
novamente com o contínuo da sua fala.

Caralho!
Percebi...
Sou eu que ainda penso nela...

Subversão


Eu
este paradoxo encarnado:
às vezes Dalai Lama
às vezes Don Juan
ora lucidez
ora poesia
melancolia e carnaval.

Só que agora
depois que ela passou por aqui
já não sei mais voltar a ter
essas dicotomias.
Ela assoprou o castelo de cartas
bagunçou o coreto
embaralhou o quebra-cabeças...

Agora tudo é agonia.
Ela me fez desaprender a ser
o que eu era antes.