domingo, 25 de dezembro de 2011

Still Life


Fazia tanto sol naquelas
tardes de verão em Inhaúma
que não se demorou pra descobrir
que aquele sol tinha um nome.
Um nome que era
ao mesmo tempo
uma chuva & uma antichuva:
um nome que até hoje
se pronunciado na imensidão da manhã
rasga o dia de um lado a outro
e perdura até as esvaziadas horas noturnas
quando
sobre a escrivaninha da solidão
põe fogo em todos os papéis em
que tento lhe escrever.

A Morte de Kavita Kavita (um necrológio)


Ó poesia que me escapa
musa assassinada
serei eu o teu estrangulador?

Meus amigos são todos atinados na vida:
são fisioterapeutas
bancários
professores.
Ganham o pão com honradez.
Mas e tu poeta Kavita Kavita?
Tua labuta é o ócio
é sentir o dia tão absolutamente que
o desintegrar das nuvens lhe é audível
que
o envelhecer das coisas lhe é visível frame a frame.
Tua profissão é se doer pelas moças que vão e não vem
em tua carteira de trabalho abundam filosofias vãs...
O que fará agora sem ter como sobreviver?

Ah poeta
partícula substancial de memória
mundo inabitável que telescópio ou
microscópio nenhum lança o olho re-velador:
o que te roubou de tua sede?

Experiências não há mais em tua vida
o tempo da solidão (tão necessário)
não há mais!
As memórias se esgotaram
amantes não podem mais haver
a Lapa...
a Lapa agora é só uma desalmada
estampa em uma camiseta.

Não há mais nada em tua vida que
se possa habitar de poesia e
talvez agonize aqui
no corpo deste poema
os últimos versos que tu escreverá na vida.

Precisará poeta
daqui pra frente
buscar a religião ou
a auto-ajuda ou
as drogas ou
o suicídio...
Porque lhe parece que a poesia já
não quererá mais ser o seu modo de
se salvar do mundo.