segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Na Primeira Manhã

(ALCEU VALENÇA)

Na primeira manhã que te perdi
Acordei mais cansado que sozinho
Como um conde falando aos passarinhos
Como uma bumba-meu-boi sem capitão
E gemi como geme o arvoredo
Como a brisa descendo das colinas
Como quem perde o prumo e desatina
Como um boi no meio da multidão

Na segunda manhã que te perdi
Era tarde demais pra ser sozinho
Cruzei ruas, estradas e caminhos
Como um carro correndo em contramão
Pelo canto da boca num sussurro
Fiz um canto demente, absurdo
O lamento noturno dos viúvos
Como um gato gemendo no porão
Solidão.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Meninas Góticas


Meninas góticas caídas pelas calçadas babando vinho com seus vestidos pretos saias pretas cheirando a naftalina que escondem às vezes mostram suas bundinhas pequenas e absurdamente redondas e a noite viscosa escorrendo nos olhos escorrendo nas clavículas glaciais fingindo chorar fingindo desprezo cortando os pulsos e desejando o apocalipse se beijando na boca nas paredes escuras banhadas por postes que iluminam fumaças e se achando vampiras e se achando as mulheres do demônio e cultivando uma ou outra dor num quarto escuro recendendo mofo enquanto melancolizam escutando no último volume bandas escandinavas meninas góticas querem morrer e meninas que querem morrer me dão um tesão do caralho.

Canto das noites sem amor nº7


A noite tem peso.
O barulho dos motores através da janela
abandona os quilos da noite em
meus ombros: são as engrenagens da
hora que não mais movimento.
Ando triste como uma concha na estante
como uma bala de fuzil vis-à-vis com
o olho do condenado
como um vestido de noiva no
armário de uma viúva.

Um nome um rosto se insurgindo
no computador não é um nome um rosto:
são pixels.
Assim como não são um nome um rosto as
músicas desesperançadas de 25 anos atrás
os carros brancos fora de linha
as ruas úmidas da Baixada Fluminense.
Não
definitivamente não são um nome e um rosto a
Rua Joaquim Silva depois da chuva
o cheiro de óleo diesel nas abafadas mecânicas
o sábado e suas manhãs imensas.
Não são um nome e um rosto...
Um nome e um rosto era ela que
gostava do minhas palavras pessimistas
era ela que adorava os filmes que a faziam chorar
e que amava tudo que a deixasse mais triste
(só que agora
tudo o que restou de sua beleza foi
essa arte de engravidar de caras diferentes).

Vejo a admiração se reduzindo a
sobrancelhas soerguidas
a poesia se diluindo como tinta na água
e não deixando nenhuma nobreza daquele
seu antigo assaltar-me.
As madrugadas agora habitadas por sonhar
mulheres que nunca conheci e que
ao acordar
deixam como rastro um
dia partido ao meio (Freud explica).
É esse desejo rascante morando em tantas paisagens
que sonhar quem nunca houve é
ensaiar minhas pequenas mortes (Freud explica?).

Aqui nessa janela
encolhido dolorido ensimesmado
suportando qual um Atlas magricelo
o peso da noite que se esvai no tempo inexorável.
É noite de sexta-feira e tudo que ficou dos
risos da juventude são essas marcas de
expressão nos cantos da boca
esse corpo envelhecido que se põe
a passar a noite imerso em tristezas:
a internet o videogame
um filme de Pabst
a internet o videogame
um livro de Vargas Llosa
a internet o videogame
e essa vontade de morrer.

Com o tempo todas as coisas se
transubstanciam
e o até o que era amor à vida se
descobre apenas uma indução a
mais silenciosa forma de desespero.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

À Lapa

(GRAÇA CARPES)

sob os Arcos da

Lapa a

passagem do

tempo

feito mágica o

ontem e

o

hoje entrelaçam as

mãos e brilha sonoro

nos

olhos dos meninos

e

meninas repletos de sonhos a

contemporânea fusão





vai uma cerveja vai

uma peleja um

acorde um

beijo

vai

?





a

Lapa sensual e bi

em suas espumantes cores

sacoleja a conservadora moralidade





o ator da nova vida traz um pé fincado

na

raiz do samba e

o

outro

ensaiando um

passo

funk





punks bichos-grilos intelectuais

cineastas atores heteros e gays circulam

todos a

mesma orgia das artes





sob o oculto olhar do exu das ruas e

das

falanges dos abandonados filhos de Cosme e Damião

bem vindas

são

todas as tribos

!