domingo, 21 de julho de 2013

fantasmagoria

lê teus chacras enquanto
as contas de madeira em
tuas clavículas reluzem a
luz fria com dificuldade

a vida babe é
como as janelas de metrô
que passam pelas estações
frias do meio de julho:

estes rostos que passam como
riscos enquadrados em
molduras de alumínio esses
rostos que nunca me verão e
dos quais nunca saberei nada
que não esses olhos cansados

o metrô a noite
- ambos sabemos - é uma
redoma de melancolia

mas você é elegante (um
brinco de osso) em
sua magreza que de dentro
da luz férrea é de uma insubstancia
fina como se fosse um facho
da própria luz moribunda

meu ouvido captura fragmentos
“loteria filha proust videogames
marido terminal
unhas feitas” e nos meus olhos de
franz kafka do subúrbio você
deve ter lido que ando solitário
que quero conhecer a dona da voz
que anuncia as estações e tocar
ternamente em sua face esquerda

babe
você deve ter percebido
que quero conhecer você também e
seu sorriso amarronzado sob a luz
café e ver as mãos do sono despenteando
teus cabelos na fumaça cinza da
madrugada de chumbo

mas o vagão é branco como um
hospital e as pessoas são limpas e
cheiram bem: é sábado a noite (mas
ainda assim sinto o cheiro do
teu sexo estreito driblando os
outros perfumes o aço desumano) e
quando meu olho e o teu se chocam
é como se abrisse uma lanterna mágica
nas tuas retinas um diamante um cristal que
vai criando narrativas e cinematografias no
metrô para o largo do machado que
é onde tu me abandona mesmo
tendo sido eu a deixar o vagão que
seguirá adiante imbatível como segue a vida:
levando embora você de mim junto
a todos os rostos que esqueceremos

domingo, 14 de julho de 2013

antesala da pediatria


tuas costas sobre os edredons
listrados rajados de neon e meia luz
tuas omoplatas cordilheiras onde
eu alpinista suicida dos teus abismos
grotas úmidas cânions rosados
a tua bunda na luz sim luz não das
persianas preguiçosas do meio da tarde
egípcia serpente garça cisne
um foucault amarelado entre tuas

mãos finas aracnideas que não
ousam desfazer as páginas mas
despedaçam meu corpo em frágeis
bordados sob a chuva espartana
magra&leve meu braço enlaça tua
anca como uma tira de veludo dando
a volta em um mastro de caravela perdida
sobre as fossas marianas enfurecidas e

ferido em sedas carmesim do teu vestido
cheio de panejamentos barrocos onde
sanguínea meus olhos entristecidos caídos
desencantados da beleza figidia entre
ébrios homens de ternos negros
no frio do meio de julho minha gripe
minha febre minha lebre saltando de olho
em olho sorrindo como se estivesse sob o sol
dançando alheia a mim e a vontade de cama
onde tuas omoplatas vertebras nuca e bunda
onde eu e você atravessados cansados e
atrasados do giro inócuo da terra