sexta-feira, 26 de setembro de 2014

quando este incêndio terminar,
venha aqui antes dos bombeiros,
e não atente ao meu corpo devastado pelo fogo.
procura pela casa ainda em brasa, uma blusa,
uma carta, um souvenir qualquer de mim.


deixa ali meu corpo aniquilado,
não se preocupe com a incandescência
revelando em minha carne calcinada as
marcas das tuas facas, dos teus dentes,
das unhas coloridas, dos teus beijos a queima roupa.


pega algum objeto do meu quarto, leva contigo:
ele será o ovo da fênix,
o meu eu triunfante sobre as chamas.
carrega-o pela tua história mesmo que amanhã
de manhã um novo amor despenteie teus cabelos.


vá embora sabendo que é teu o que possuí:
o que sempre foi o melhor de mim.


***

lembra de mim como alguém que amou te
olhar dentro dos teus vestidos coloridos,
lembra de mim como alguém que criava
mapas do tesouro no teu corpo e,
me agarrando as tuas costas,
sempre marcava com um xis a soberba
geografia da tua nuca descoberta.