imagina menina um
apartamento na rua do
riachuelo amanhecendo no
domingo pela manhã após
uma noite de chuva os
pássaros cantando as pessoas
vagarosas indo ao mercado tudo
quase não querendo existir
imagina menina acordar nesse
apartamento o cheiro dos lençóis
lavados e da madeira velha do
assoalho e ainda ofuscado
vê-la debruçada na janela a
luz lenta contornando suas
clavículas (seu primeiro cigarro do
dia) os músculos das tuas costas
quase sem carne e escorrer
os olhos pela cânion moreno da
tua cervical até a sua calcinha
assimetricamente vestida e ali
ficar adivinhando o volume das
tuas pernas de garça na penumbra
vê menina como é estranha
a vontade da criação poética: no
nosso olhar de 1 segundo e ½ ela
fez caber todos os sentidos que
seriam nesse espaço-tempo inteiro