terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

coisa acesa por dentro


é quando você chega
- repentina -
me alvejando com um
sorriso inesperado:
jovem & delicada & fina &
quebradiça como o fio
de lua que invade o quarto
escuro por uma fresta

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

trilogia do carnaval


I
schwarz damiel

fantasiado de anjo não
tenho nem de longe a
elegância de bruno
ganz naquele filme alemão

mas se tenho uma
trapezista no pensamento
o carnaval do rio vira
inverno em berlim?



II
mãe de júpiter

os teus olhos desertavam o mercúrio e o neon encontra-los na multidão foi achar a gema no leito do rio que corre e fazer da tua timidez a matéria indestrutível do carbono de onde eu via teu sorriso adamantino girando translúcido e cada face do cristal multiplicando teu rosto infinitamente nos espaços estreitos da minha coragem e o brilho da lua refletindo nas serpentinas e colorindo os teus dentes que se aproximavam do meu sorriso amarelado de tetraciclina e num encontro que o bloco inteiro aplaudiu a refração da luz alisando os teus vértices de diamante tornou aquele beijo numa multifacetada eternidade que ainda ecoa alegre pelos cantos empoeirados dos lugares sem carnaval 


III

olhos de bruce lee

quem a veria
e a fixaria
além de mim com esse
sentido de nostalgia do
que não houve?

quem a veria
e a sentiria
além de mim e teria
saudades da chuva nas
ruas de tóquio e da
cor do alvorecer nas
praças cálidas de pequim?



sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

vaticínio


imagina menina um
apartamento na rua do
riachuelo amanhecendo no
domingo pela manhã após
uma noite de chuva os
pássaros cantando as pessoas
vagarosas indo ao mercado tudo
quase não querendo existir

imagina menina acordar nesse
apartamento o cheiro dos lençóis
lavados e da madeira velha do
assoalho e ainda ofuscado
vê-la debruçada na janela a
luz lenta contornando suas
clavículas (seu primeiro cigarro do
dia) os músculos das tuas costas
quase sem carne e escorrer
os olhos pela cânion moreno da
tua cervical até a sua calcinha
assimetricamente vestida e ali
ficar adivinhando o volume das
tuas pernas de garça na penumbra

vê menina como é estranha
a vontade da criação poética: no
nosso olhar de 1 segundo e ½ ela
fez caber todos os sentidos que
seriam nesse espaço-tempo inteiro