terça-feira, 22 de novembro de 2011

Canto das noites sem amor nº7


A noite tem peso.
O barulho dos motores através da janela
abandona os quilos da noite em
meus ombros: são as engrenagens da
hora que não mais movimento.
Ando triste como uma concha na estante
como uma bala de fuzil vis-à-vis com
o olho do condenado
como um vestido de noiva no
armário de uma viúva.

Um nome um rosto se insurgindo
no computador não é um nome um rosto:
são pixels.
Assim como não são um nome um rosto as
músicas desesperançadas de 25 anos atrás
os carros brancos fora de linha
as ruas úmidas da Baixada Fluminense.
Não
definitivamente não são um nome e um rosto a
Rua Joaquim Silva depois da chuva
o cheiro de óleo diesel nas abafadas mecânicas
o sábado e suas manhãs imensas.
Não são um nome e um rosto...
Um nome e um rosto era ela que
gostava do minhas palavras pessimistas
era ela que adorava os filmes que a faziam chorar
e que amava tudo que a deixasse mais triste
(só que agora
tudo o que restou de sua beleza foi
essa arte de engravidar de caras diferentes).

Vejo a admiração se reduzindo a
sobrancelhas soerguidas
a poesia se diluindo como tinta na água
e não deixando nenhuma nobreza daquele
seu antigo assaltar-me.
As madrugadas agora habitadas por sonhar
mulheres que nunca conheci e que
ao acordar
deixam como rastro um
dia partido ao meio (Freud explica).
É esse desejo rascante morando em tantas paisagens
que sonhar quem nunca houve é
ensaiar minhas pequenas mortes (Freud explica?).

Aqui nessa janela
encolhido dolorido ensimesmado
suportando qual um Atlas magricelo
o peso da noite que se esvai no tempo inexorável.
É noite de sexta-feira e tudo que ficou dos
risos da juventude são essas marcas de
expressão nos cantos da boca
esse corpo envelhecido que se põe
a passar a noite imerso em tristezas:
a internet o videogame
um filme de Pabst
a internet o videogame
um livro de Vargas Llosa
a internet o videogame
e essa vontade de morrer.

Com o tempo todas as coisas se
transubstanciam
e o até o que era amor à vida se
descobre apenas uma indução a
mais silenciosa forma de desespero.

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