quinta-feira, 19 de junho de 2008

Pastel Seco Sobre Tela




Passei a noite enxergando a Louise
na beleza quase fictícia das meninas noturnas.
Pela manhã eu deito no colchão na mesma posição,
para reconstruir novamente a cena,
para ainda ver,
mesmo que esculpida na miragem da saudade,
as omoplatas nuas naqueles momentos antes dela ir trabalhar,
as clavículas pálidas da Louise,
num último respiro antes de serem tomadas pelo vestido.

Louise era alheia a qualquer sedução no seu vestir,
dava as costas p’ros meus olhos entupidos de desejo,
como se eles não fossem dignos de amargar
a fronte do seu torso branco uma última vez.
Ela era assim,
bonita sem o saber ou querer,
imersa na casualidade de uma mulher
quase avessa a qualquer a qualquer vaidade.
Louise foi toda movimento e impressão:
eu a enxergava em riscos rápidos,
diáfana e indefinida,
mas de uma fugacidade que não dissolve porque a capturei,
de uma beleza esguia que não me escapa.

Hoje eu vejo a Louise nas bailarinas de Degas.

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