segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Sóror Cheia de Alegria


“Eu quero esse corpo que a plebe deseja
Embora ele seja prenúncio do mal”
-Nelson Gonçalves


Encontrá-la tão bonita e tão volúvel,
me faz pensar em roleta russa,
no mergulho no centro do recife de coral.
É um perigo toda essa proximidade,
o risco de se dobrar ao seu jeito,
tão perfeita que parece uma idéia de dor,
tão puta que parece que já nasceu assim.
E nada permite o distanciamento dessa mulher sem apego,
grandiosa ave de rapina, falcão, condor e águia americana,
me circundando com seus vôos de caça e telefonemas,
que me expõem as garras dos seus artifícios,
me fazendo presa, coelho e camundongo,
atraído pelo ressecado do vermelho da sua boca exposta,
calculando a impossibilidade de prendê-la nessa minha gaiola
que sempre foi apenas de madeira.

Ela é flor que só se tem à beira do abismo,
tão anjo e tão rata,
tão inteligente e tão junkie,
cicuta com gosto de Coca-Cola.
E mesmo assim eu vou querendo e temendo,
e proporcional ao medo,
vem o desejo do seu corpo rabiscado,
vem o encantamento pela loucura da sua cabeça,
maior o querer de encontrá-la de novo,
me esperando em frente as luzes do chafariz,
chapada de cerveja, cachaça e de sei lá mais o quê,
chorando e me ferindo, agressiva e doce,
enquanto eu, encolhido do lado,
vou abrindo meus poros a unha de tanta ânsia e indecisão!

As luzes das lojas se apagando uma a uma,
o limbo das vitrines escuras refletindo as costas dos quadris dela,
vão me baqueando no receio de colhê-la
e me enchendo do pavor de depois,
como é tão próprio a mim,
não conseguir saber deixá-la definhar...

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