segunda-feira, 12 de julho de 2010

A Solidão nos Lençóis do Varal


Os lençóis no varal são
o único indício de movimento
nessa tarde ociosa
onde tudo pára
onde tudo se sustém
menos talvez a força dessa música
que mesmo agora ainda
quer alcançar aquela musa que
anda diáfana mas que nunca se extingue.

Folhas verdes e vermelhas
(essa última cor a sua última cor)
casas empilhadas nos morros
(que vida acontece ali agora?)
é tanto azul no céu de julho
que poderia jurar que tudo
quase fica azul
(menos no colorido das fotografias do mural
menos no cinza das minhas vontades).

E de frente ao espelho me vejo e
o que vejo eu aprendi nos livros de escola:
não passa de cabeça tronco e membros...
mas é realmente isso que me contém?
é onde eu me caibo?
é o que reafirma perene o “eu existo”?

Diriam outros que isso aqui é um corpo
(talvez uns sentimentos vagabundos
talvez uma alma à venda)
mas eu digo que não:
eu afirmaria que isso aqui é
um maquinário de afetos
cujas engrenagens silenciosas operam
o milagre da poesia
e fazem meu coração cessar o tum-tum
e dentro dessa caixa torácica
se render aquela brisa sossegada que
embala a solidão nos lençóis do varal.

Nenhum comentário: