sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Zéfiro Seduzido


O seu cabelo ao vento
desse negro absoluto
solto no ar
é uma serpente de petróleo que dança.

Não.
O seu cabelo ao vento
desse negro absoluto
cobrindo seu rosto
é como um véu de assassina árabe.

Esse vento que teima
em pôr uns únicos fios presos na
separação dos lábios dela
(quando ela os prende atrás da orelha
isso já é toda a poesia).

Enquanto ela caminha
o vento força seu vestido contra
os seus peitos
vai frisando o tecido suavemente
para além da sua cintura:
ondas que escalam seus quadris e
dissolvem-se contra duas montanhas eriçadas.

E nesse dia de vento
como é normal acontecer
tudo vai perdendo a cor...
mas nos lugares por onde ela caminha
o vento ergue seu vestido azul clarinho
e vai derramando a cor de creme das
suas coxas pela calçada inteira.

Porém
esse vento quando a envolve
não é um caótico sopro de ar:
tudo o que nela se agita
se agita em harmonia.
No seu cabelo
no seu vestido
o vento é o próprio movimento das coisas
é a vida mesmo que as coisas adquirem.

Vê-la caminhar assim dentro do
tormento do vento é sublime:
é como ver caminhar a Vênus do Boticelli
dentro de um quadro de Van Gogh.

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