domingo, 13 de março de 2011

Noturnismo


Um rapaz negro às 10 horas da noite
vendendo livros na calçada
livros que ninguém comprará:
pra mim ele é
uma sombra de suprema tristeza
mas também é uma sombra imperceptível
(como também posso ser)
pra ela que passa dentro das suas meias
das sua sapatilhas de bailarina
dentro do seu formato de corça.

Enquanto isso
casais suburbanos se amando nos
pontos de ônibus de Copacabana
(pelo modo como se dão só podem ser suburbanos)
e sei que naqueles beijos há todo o sentido
há todo o mistério...

E mesmo com a noite me soletrando a vontade
das noites que quase não puderam haver
mesmo estas horas me impondo intimamente
que o tempo das noites acabou
paira no ar a pergunta:
se um dia eu voltar ao seu seio
ainda me quererão horas noturnas?

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