segunda-feira, 23 de maio de 2011

(Pre)Sentimentos


Virão.
Virão eles todos.
Por entre as ondas da Praia Grande
dos dejetos e das lixeiras eles
virão.
Das nossas noites exaustas (e sobretudo
das nossas noites exaustas)
das guerras santas na televisão
cavalgando suas antenas parabólicas
eles virão.
Dobrando as esquinas do sossego
por entres as mãos do malabarista
por entre as pernas da bailarina
eles logo logo virão.
Do frio deserto no Aterro noturno
dos beijos falsificados das oito horas
dos teus olhos vermelhos injetados de maconha
eles virão.
Do nosso sangue nos lençóis
da voluta cor de cobre dos teus cabelos
do filme antigo numa tarde de terça-feira
eles em breve estarão aqui.
Entre as páginas de uma revista pornográfica
entre as folhas de “Cem Anos de Solidão”
são eles que virão.
Das listras da blusa preta do poeta morto
do céu descortinado do Leme
no barulho do ventilador no quarto de dormir
eles com certeza irão chegar.
Em cada palavra engolida a seco
no bolo dominical da minha mãe
por entre os Arcos debaixo do bonde
sim!
Eles virão!
Das portas das casas dos parques dos
supermercados dos pontos de ônibus e
das bancas de jornal
eles sairão e farão dilúvio.
Essa é a verdade do mundo: eles
estão em todo lugar a espreita
se esgueirando de mansinho para nos tomar...
e tolo será aquele que
na face da Terra
tentar ficar ileso aos seus assaltos.

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