sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Elegia para Nix


Para Gabriel

Onde agora existe a noite que
nos acolhia irmão?
A noite que nos sussurrava seus
segredos e
em troca acobertava nossos crimes:
você lembra que
nas veias da noite caminhávamos como
dois bandidos
como vagabundos
vira-latas de rua?
Mas éramos também reis
coroados no cansaço da madrugada
éramos deuses embriagados de vinho (barato)
e cerveja (de um real).

E agora essa velhice tão cedo
esse silêncio
essa imobilidade ganhando os
dias palmo a palmo.

Por onde andará a noite geradora
dos nossos interditos?
As horas em que éramos cúmplices
de bebedeira
de luxúria...
de vida afinal.
Onde cada luz de poste era
uma iluminação nirvanica
onde tínhamos um estoque de risos
e éramos ao mesmo tempo garotos sem rumo
e também homens lamentando o passado.

Naquelas noites em que tudo colidia
em desejo e
no desejo encontrávamos uma
estranha forma de sermos felizes
(a noite nos diz de mais de desejo que
qualquer outra coisa).

E quando a manhã nos entregava o
seu silêncio
apenas nós sabíamos o que havia
se passado no cerne agudo da noite.
Apenas nós
dançarinos dionisíacos que voltavam pra casa
exultantes feridos e
embriagados...
Era nossa Walkabout.

Essas horas irmão
talvez hoje
rolem das mesas nas últimas garrafas
dos últimos bares do mundo.
Mas o nosso amor (essa transcendência)
esse jamais escorrerá pelos bueiros.

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