quarta-feira, 6 de abril de 2011

Fogo de São Telmo


A chuva fina faz
rachuras líquidas no desenho da paisagem
e é dentro dela que a voz das
ruas se torna mais límpida:
ouço a tristeza do concreto manchado
imiscuído de umidade
a cólera das antenas vociferando
contra o céu.

Os prédios são quase
negros dentro do chuvisco
automóveis escuros recusam
a imobilidade e
ela (seu casaco rosa no dia sem cor)
passa na calçada imantando meus
olhos na argolinha do seu nariz.

A memória se atrita contra as saudades
do que a cidade não sabe
e esse embate cria fenômenos elétricos que
reluzem na solidão das antenas
na carcaça dos automóveis
no feixe de prata no nariz da passante.

A chuva é fina sim
mas tudo me é tempestade por dentro.

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