quarta-feira, 6 de abril de 2011

Sweet hours have perished here;


Do sexto andar a
cidade agora é uma paisagem embaçada.
Penso nas noites da juventude
que hoje parecem um devaneio absurdo
uma fumaça entre os dedos
uma visão narcotizada.

Começo a me perder das vontades como
um elemento químico que
perde as propriedades...
e aí se torna uma outra coisa:
mais serena
mais inofensiva
mais morta.

As músicas no rádio insone
passam a ter todas
o gosto implacável da aspirina.

Perscruto o quarto escuro
consulto o relógio (umaetrêsdamanhã)
e o senso de deserto me
lembram Emily Dickinson no sótão.

Sou Emily Dickinson no sótão:

com meu vestido negro e
minhas mãos brancas e finas todas
sujas de poesia:
um corpo frágil no cerne da solidão.

Mas a literatura já me cansa.
não consigo ler mais meia dúzia de
páginas sem me entediar ou ferrar no sono.
E temo que a vida esteja imitando a arte.

Quando a manhã chegar precisarei
tomar café na rua.
Procurarei um lugar que me sirva um
copo de café-com-leite onde
o açúcar possa ser substituído por
algumas colheres de desejo e apego.

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