quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Projeto Hitlerista Para Extinção da Arte Moderna



Rótulos de destilados em
prateleiras de bares sujos são
uma coisa bonita.
Outra coisa bonita são
normalistas com seus cabelos
molhados na poeira das
6 horas da manhã.

Come Undone tocando no meio
da madrugada chuvosa é
uma coisa lindíssima.
Mas cruzar a noite chuvosa entre
faróis lacrimejantes da Barata Ribeiro é
mais lindo ainda.

As ruas desertas do Centro em
dia feriado são de uma beleza insuportável.
Como também é terrivelmente bonito um
poeta anoitecendo as horas e as
palavras em seu quarto.

Chegam a doer de tão belas as
atendentes chinesas das pastelerias no
meio do dia tórrido.
E ferem de tão belas as fotografias
dos amigos (todos jovens)
afogados no azul dos verões irresponsáveis.

Uma coisa serenamente bonita é
escrever um poema na
Rua do Lavradio embriagada.
E uma coisa violentamente bonita são
os transex sorvendo as luzes
artificiais e frias na Rua da Glória.

Ou ainda a respiração de um cão
dormindo enrolado.
Ou ainda o piso rachado da casa da
avó falecida reverberando pelas
pinturas da memória.

Ou ainda derradeiramente te olhar
pintando os cílios de frente pro espelho
imersa na iluminação vinho desse
quarto de hotel.

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