domingo, 28 de abril de 2013

a tela de penélope


quando ela chegou trazendo
as malas eu pude realmente
conhecer sua matéria que
antes existia apenas dentro
do motor lento da espera e
me surpreendi com suas
unhas pintadas como explosões
via-lácteas com o seu cheiro
de naftalina e com sua saliva
largando sob meu nariz um
odor de roupa mofada

ela chegou impondo suas
tristezas a sua insônia convulsa
nessa minha vida carinhosa mas
já sem nenhum amor possível

e a amei como quando era
jovem e temia a chegada da manhã
e a amei como quando era
jovem e suscetível a febres veraneias
a amei doce e triste como é o
meu amor: uma elegia tocando baixinho
num amadeirado gravador antigo

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