terça-feira, 23 de setembro de 2008

Setembro Despetalado


Depois dela haverá possibilidade
de se crer na perenidade do amor?
É certo que não.
Pois agora a minha herança são essas músicas,
que preenchem de forma imperfeita os vãos onde me encolho.
Pétala por pétala, cada hora triste se destaca da flor do dia,
e plana devargazinho até cair ao chão.
E murcha.
Todas as coisas junto.
A primavera veste a pele de um novo inverno,
esse será um ano de dois invernos...
porque, e sobretudo porque,
meu espelho só reflete uma metade agora,
no colchão, a fração que eu sou rola sozinha,
sem cheiro, sem calor, sem cabelos,
pra me abrigar da solidão que nos vem quando é chegada a hora de dormir.
Se ao menos o que se viveu junto não se desmanchasse facilmente,
e pudesse pesar na hora da decisão dela partir,
se ao menos a saudade que ela diz se dona não fosse tão diluída,
fosse de um tamanho suficiente pra fazer ela querer um pouco mais a mim...
mas só o que se descortina é algo incompreensível:
é uma metade querendo ficar distante da que lhe completa,
e essa metade que aqui ficou,
de lá p’ra cá no mundo novamente,
em dias vazios, dias sem espera,
esperando encontrar o sorriso da outra parte
em qualquer banco de ônibus sobre a Guanabara,
ou numa sala de cinema antiga do Centro,
ou ainda brotando de um leito de orquídeas
sob o sol tépido de uma feliz manhã de sábado...

Um comentário:

Mariana Tiné disse...

Como assim querido?
De q forma descobriu isso???

Fiquei assustada...
Bjs querido