quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Nas ruelas do Centro os
prédios condenados vertem
nostalgia pelas suas rachaduras
e mesmo essa hora da noite ainda penso
na primeira claridade da manhã:
imagino lá dentro os fachos de
luz do sol brotando pelas frestas
raios de luz empoeirados fatiando o
o ar denso das salas abandonadas.

Pego o ônibus e a essa hora só o
Cine Íris ainda vende seus serviços e
os dois travestis sentados atrás de mim
me fazem achar que todos os travestis
usam o mesmo perfume.

A sirene da viatura
enquanto passa
(e até ela o faz em silêncio)
empresta por um instante o seu
vermelho fluorescente a ausência de
cor dos apartamentos velhos.

A menininha na janela de madeira
desgastada lança os olhos em meio aos
carros que seguem para o Rio Comprido
enquanto nos bares alguns velhos boêmios
resistem a mais a cachaça que a vida.

Tudo é assim meio triste quando
nada parece serenar ante os meus olhos
(tudo eu vejo atravessar a corte a carne da noite)
e o temporal que se aproxima e que na
madrugada vai deixar tudo límpido e silencioso
pode fazer de cada pingo a testemunha
de que o mundo existe melhor na ausência dos homens.

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