domingo, 7 de fevereiro de 2010

O Yin Yang


A essa hora ela deve estar na
brisa fresca do seu imenso quintal
cortando alguns galhos
alimentando seus peixes...
fazendo tudo perfeito como ela
sempre fazia tudo
(quando arrumava as coisas do meu quarto
quando arrumava a minha vida).

Mas ela não anda mais por aqui...
pegou sua espaçonave e deixou
este meu asteróide onde cultivo desertos
e semeio o cinza de alguns dias de chuva.
Ela voltou para o seu planeta-jardim
onde ela cuidará de um mundo
que é inteiro setembro e primavera
e todo ele sabe que será feliz porque
será moldado no carinho das suas mãos.

E eu
único ser vivo nesta aridez silenciosa
volto a ser o seu oposto
fazendo aquilo o que sempre fiz:
o não saber cuidar de nada e nem de mim
apenas esta carnação da solidão
o não-existir de um quarto
desejo contemplação e melancolia.

Lá no planeta dela
(nas noites mais claras eu posso
vê-lo brilhando em azul pela minha janela)
ela pertence a todas as coisas
se entrega no seu amor absoluto
e a vida inteira anseia pelo seu riso.

Porém de tudo aqui
nada sente minha falta...
passo pelos dias vagando entre galáxias infinitas
um menino sentado na beira de um asteróide
escrevendo para que ao menos essa
folha de papel possa saber que existo.

Um comentário:

Dom Quixote disse...

Obrigada pela ilustração...
vc pensou como eu pensaria...rs...

...encontrei meu "planeta-jardim" um tanto devastado... sem cuidados, carinho, sem música,sem cor ...sem amor...

tô tentando reconstruir... mas td aqui é saudade...

daquele menino na beira do asteróide, que deixei sozinho para que eu mesma não o sufocasse...para que ele fosse feliz...

preciso estar bem com vc para estar bem comigo, completando um ciclo natural...
como lua e sol...
... sombra e luz...
... yin e yang...