quarta-feira, 14 de abril de 2010

Fantasma Industrial


A noite se esforça para derrubar o temporal.
Lentamente o ônibus passa em
frente a uma fábrica fechada onde as
janelas acesas me angustiam.
Através delas eu vejo prateleiras
abarrotadas de caixas
através delas eu vejo o teto de cinza cru
dentro da moribunda luz branca.

Mas na janela do meio há um
resíduo de vida:
existe ali um mulher fumando.

Dentre tanta concretude
eu chego a duvidar da sua realidade:
talvez ela seja só o fantasma de uma lembrança
um espectro assombrando o velho prédio.
Mas definitivamente ela está lá àquela hora
na janela de uma fábrica vazia
sentindo entranhar nas narinas e nas
roupas o cheiro da nicotina.

Ela nunca suporá que olhá-la ali
-nós que nunca nos conheceremos-
na janela acesa de uma fábrica deserta
fumando numa noite de quase temporal
me deixou querendo que a chuva caia.
Deixou pra mim
sem motivo algum
uma volta pra casa bem mais triste.

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