segunda-feira, 16 de junho de 2014

desce o bordado lentamente,
cada fio, fiapo, dobra e poeira,
a trama microscópica do tecido ondula.

aos poucos,
como rosas que se abrem, via-lácteas explodindo,
cada mancha infinitesimal da tua carne faz aparição.
ainda cada sombra sobre os mínimos volumes musculares:
nos poros posso ver a ascensão dos pelos,
e neles enxergar a exalação lenta dos teus cheiros.

o instante me olha tão nitidamente que quase decifro,
no padrão da tua pele, o rosto dos teus antepassados.

mas voltar a si é voltar ao todo:
tuas costas nuas emergindo do casaco descendente,
violentamente afogando a gávea inteira,

na realidade incontornável das tuas omoplatas.

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