segunda-feira, 16 de junho de 2014

este poema é pra ti que me esquece,
grávida de narciso,
no contraste das fotografias.
pra ti, que se veste e se despe sem me olhar,
e não percebe que tua nudez é toda viva
e comigo troca olhares surdos.

pra ti que,
mesmo trazendo nas veias a pulsão orgíaca de teu antepassado,
ainda tem o disparate de sonhar com automóveis.
pra ti, este diamante bruto que lapido e contamino,
e que firo a pele escassa com minha delicadeza de canalha.

pra ti que lança a voz de clarice no vento do aterro,
a voz de hilda através dos abismo deste quarto,
pra ti que ri dos casais, que a eles trama histórias,
e sabe que isso é como um amar junto.

estes versos vulgares, rotos,
são pétalas postas ao chão por um poeta vulgar e roto,
pétalas úmidas de breu e gozo, pra ti que,
sobre a cômoda abandona a marca dos copos,
restos de cigarro e fósforos consumidos ante
ajoelhados deuses dos mortos.

este poema é um recado de amor pra ti, poeta do século XXI:
a cama posta (vestígios e indícios da tua insondável inteireza),
só quero te devorar pelo dia adentro,
passar a vida inteira comendo-te com língua e linguagem:
povoar a terra inteira com uma nova raça de poetas mestiços.

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